terça-feira, 18 de setembro de 2012

Revelacao da adoção

O tema da chamada "Revelação da Adoção" é importantíssimo. Como e quando contar ao seu filho que ele é adotado. De que maneira fazer isso. Por que fazer isso!?

Reproduzo aqui um artigo que eu escrevi no Blog Mães em rede e mais alguns outros que já li sobre o tema!

Tem também uma série de livros infantis e adultos que ajudam muito e que estão indicados aqui no log.

A revelação da Adoção (meu texto no Blog Mães em Rede)

Oi, amigas (os). Depois de um tempinho ausente, retorno ao blog para conversar um pouco sobre adoção. Dessa vez, sobre a chamada Revelação da Adoção. É que estive ontem no Café com Adoção (grupo de apoio que eu frequento desde 2007) e achei que valia a pena trazer o papo de ontem aqui para este blog. Para começar, tenho que concordar com os especialistas da Vara da Infância de que esse termo “Revelação” é infeliz. Só se revela o que estava escondido, E na adoção, a gente é orientado a falar sempre, não manter nada no silêncio. Embora seja um senso comum de que a criança tem direito a saber da sua origem e que uma relação de amor entre pais e filhos não pode ser construída com um grande segredo, não é exatamente fácil explicar a adoção para os nossos filhos e filhos de amigos. Por isso, esse tema sempre volta ao Café. E eu, que até pouco tempo, ficava perturbando os mais experientes em busca de conselhos, dessa vez me sentei lá na frente e dei meu depoimento...

Comigo foi assim: desde bebezinho eu conversava com o Roberto sobre “como a mamãe foi lá longe buscá-lo” e “como eu o amei assim que o conheci”. Com ele no meu colo, embalando para dormir, eu dizia que “tinha pedido para ser mãe dele e que ele sorriu dizendo que queria ser meu filho”. Essa conversa não era nada difícil, mas eu me sentia um tanto ridícula falando para um bebê que não responde. Me obrigava a falar sempre e ficava às vezes me perguntando se já devia falar de novo ou se devia dar um tempo daquela conversa. Em casa, a forma como eu estava conduzindo o tema gerava polêmica. Meu marido, bem mais caladão, achava que eu estava exagerando e que o nosso amor por ele é maior que tudo e que não precisava ser explicitado assim. Já eu, que tinha assistido não sei quantas palestras sobre adoção e seguia à risca os conselhos, fiz ele me jurar que falaria e que não ia ficar guardando esse assunto para a chamada “hora certa”. Não existe hora certa, a hora certa é o mais rapidamente possível, desde sempre. Um belo dia, finalmente, meu marido iniciou essa conversa com o Roberto enquanto empurrava nosso filho por volta de um ano num balanço. Demorou, mas saiu. Em quatro anos, tenho quase a certeza de que foi a única vez que ele falou nisso! A sorte é que como eu falo demais, Roberto se sente à vontade para perguntar a nós dois sobre a sua história e meu marido acabou entrando na conversa de forma mais natural. Ufa! Mesmo sendo meio estranho bater aquele papo com um bebê de meses ou mesmo quando ele já tinha um ou dois anos e nunca me respondia – apenas ouvia – eu seguia em frente. La no Café com Adoção, a Solange Diuana (uma das coordenadoras) me explicou que, se a gente não faz assim, vai começar quando? Depois que a criança já está na família há um bom tempo, o tema adoção vai caindo em segundo plano e as chances são maiores de essa conversa nunca existir. Ela não surge naturalmente, então a gente tem que se lembrar de falar. E eu, certinha, lembrava toda hora. Será que até demais?

Por volta dos 3 anos, finalmente, nosso filho começou a elaborar esse tema. Primeiro perguntou a babá onde foi que a mãe dele tinha ido busca-lo. Ela ficou apavorada e surpresa com a pergunta – assim do nada – e disse “eu não sei de nada, fala com a sua mãe”. Depois, ele disse a um taxista que perguntou o seu nome que ele era um “menino perdido “ (a la Terra do Nunca, do Peter Pan). Notei que ele estava mais mal criado e mais irritado. Nesses momentos, eu falava que ele não era menino perdido, que mamãe e papai amavam ele demais, que ele era a razão da nossa vida.  Sentia que ele estava confuso e muitas vezes era mal criado. Juro para vocês que é horrível. A gente ama tanto, tanto, como podemos aliviar esse sofrimento? Que foi que eu fiz de errado para ele estar assim chateado? Nessa época, tive o apoio do Café, da minha analista e da minha irmã, que me deu um bom conselho: Não sufocar. Ele sabe que é amado, mas também tem o direito dele de elaborar a questão. Não é uma coisa simples, mas ele vai ficar bem.

Foi uma fase bem curta. Logo em seguida, adotamos nosso segundo filho, Miguel, e ele teve a oportunidade de ir buscá-lo com a gente. Pergunta se não adorou a experiência? Contava para todo mundo que tinha ido busca-lo “num lugar bem lindo” e me pediu para buscar mais um monte de irmãos. Ficou um mel, hoje são super unidos. Alguém brincou com ele pedindo se ele daria o Miguel para ela levar para casa, A resposta foi: “Claro que não. Nós que fomos lá buscar, ele é nosso” Essa nossa conversa ainda não acabou. Como falamos ontem lá no Café, é uma conversa que precisa ser recontada inúmeras vezes. Aos 4 anos, ele não sabe por exemplo que nasceu de outra barriga. Não tem nenhuma informação sobre a entrega dele, só sobre o momento em que ele virou nosso filho. O meu sobrinho de 5 anos, apenas um ano mais velho que ele (portanto não lembra quando ele chegou), também não sabe direito ainda essa história e a minha irmã já pediu ajuda para que ele possa entender. Não sei como explicar para ele, agora de repente, aos 5 anos. Com o Roberto foi mais fácil porque fui construindo esse discurso dede que ele era bebê. Já o meu filho caçula Miguel, hoje com quase um ano, também ouve essa conversa toda hora. Vivo dizendo que “a moça me ligou perguntando se eu queria um filhinho e que fui lá correndo pegar o bebê mais amado do mundo”.

Vamos ver como ele vai reagir lá na frente. Para quem se interessar sobre o tema, uma dica legal: montar um álbum de fotos com a história da familia, antes e depois da chegada da criança. Deixar sempre à mão, para que a criança possa fazer perguntas. Uma amiga montou um quadro de fotos com o momento do encontro com a sua filha e colocou em cima do trocador de fraldas. A toda hora mostrava: "Veja aqui, quando a mamãe foi te buscar". Tem também uma lista de livros legais voltados para crianças, com histórias infantis bem elaboradas em cima desse tema, no www.portaldaadoção.com.br  


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